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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Tardígrado

Os tardígrados são animais microscópicos presentes em quase qualquer lugar do planeta. Também chamados de “ursos d’água”, podem ser encontrados em praticamente qualquer lugar que tenha água. Seu nome significa “o que se move devagar” e são as criaturas mais resistentes que se conhece. Suportam bem temperaturas acima dos cem graus Celsius e inferiores a duzentos graus negativos, sem maiores problemas. Sobrevivem no vácuo do espaço ou na fossa mais profunda do oceano, não dando a mínima para a pressão atmosférica. Podem ser expostos à níveis altíssimos de radiação e quando são retirados da água, seu habitat natural, entram em um estado de hibernação que os mantém vivos por décadas. Dentre os limites impostos à vida no planeta Terra, essa criaturinha é capaz de superar sem esforço condições que seriam letais para qualquer outro habitante. Descobri a existência deles quando assisti a série “Cosmos: Uma Odisséia do Espaço-Tempo” (2014), apresentada pelo físico Neil deGrasse Tyson, que disse que se uma civilização alienígena visitasse a Terra poderia pensar que essa era a espécie que dominava o planeta, devido a sua presença nas diferentes eras ao longo do tempo, suportando todas as condições e adversidades que levaram a extinção de outras espécies.

Gosto de usar animais para fazer analogias com pessoas. O ser humano, tão orgulhoso de sua autoconsciência, pode perfeitamente ser explicado usando-se exemplos de outros animais. Somos nada além de um bando de macacos ingovernáveis girando no espaço em uma rocha molhada. E meditando sobre as incríveis habilidades destes animaizinhos, acrescentando uma boa pitada de senso de humor, acabei adotando-o como um símbolo pessoal. Dali em diante eu seria como um tardígrado. Um ser capaz de suportar qualquer condição, qualquer perigo, qualquer situação, sem sucumbir. Venha o que vier, aconteça o que acontecer, eu sobreviverei. Serei tão resistente quanto o tardígrado e nada nesse mundo será eficiente em me destruir. 

Viver é complexo e não preciso. A vida é torta, desalinhada. Com uma harmonia incompreensível para nossas frágeis mentes primatas. As coisas que se encaixam convivem com os absurdos que não fazem sentido. O que desejamos nos oprime, o que precisamos muitas vezes é insuficiente. Por isso é preciso ser capaz de lidar com o inusitado, de improvisar. De se fortalecer cada vez que a fraqueza nos derruba. Por isso eu crio rituais e símbolos, dou significados pessoais para as coisas. Construo minha própria mística. É meu jeito de lidar com o que não posso explicar e de ilustrar o que tenho dificuldade de traduzir em palavras. É um bom exercício para quem tem uma mente inquieta que o tempo todo busca significado em tudo que acontece.

Depois de superar um monte de coisas e de aprender a conviver com outras tantas, de levar a vida em frente apesar das dores imensas na alma, hoje faço a escolha de continuar andando apesar da escuridão que me cerca. Sinto que minha vida é isso, andar sobre uma ponte reta estreita esticada sobre um abismo na mais completa escuridão. Cada passo é uma escolha, uma decisão na qual espero não pisar em falso, não tropeçar e não errar a direção, já que não vejo o que vem à frente. O medo é constante, a agonia de não saber se o próximo passo me derrubará é presente o tempo todo. Assim como a angústia de não ver para onde estou indo. Só sigo lentamente me movendo com cuidado, tentando acertar como posso e confiando ser merecedor da proteção Divina.

Minha vida atualmente é bastante normal. Nos padrões de conveniência social eu tenho um bom emprego, ocupo meu tempo com trabalho, estudos e lazer em boa medida. Levo uma vida que julgo ser digna e mais confortável do que a maioria das pessoas do meu país. Sem luxos, mas não faltando nada. Trato dos problemas psicológicos que me afligem com ajuda profissional, faço uso de medicação adequada para estabilizar minha mente. Tenho gente boa com quem contar, tanto família quanto amigos. Tenho planos, sonhos e crenças que me ajudam a lidar com o presente ao imaginar um futuro melhor. Mas nem sempre foi assim.

Já estive em trevas, preso no lodo fedido de um poço escuro. Já estive doente e sem perspectiva. Já fiz escolhas que me levaram a estar sozinho em situações perigosas. Já tomei decisões que me trouxeram tristeza e arrependimento. Já me senti injustiçado e miserável, sem nem o mínimo e dando o máximo. Já caí da ponte, para dentro do abismo. Já fiquei parado, sem andar, com medo do que aconteceria se desse outro passo errado. Suportei a dor e a vergonha me dando desejos de morte. Encarei aspectos de mim mesmo que gostaria que não existissem, alguns dos quais consegui derrotar e aprisionar no porão. Suportei variações letais de temperatura, de pressão, de hostilidade. Colhi frutos de burrice, de preconceito, de estupidez. Já estive mal, bem mal. Fui levado aos limites da tolerância mais de uma vez. Inclusive, sendo salvo milagrosamente em muito mais vezes do que creio ser merecedor. E aqui estou.

Posso usar vários adjetivos para me descrever, alguns positivos, outros negativos. Mas, sem dúvida, se pudesse me definir em uma palavra hoje em dia, essa palavra seria “resistente”. Eu sobrevivo. Eu resisto. Tal qual o tardígrado, eu também sou capaz de suportar condições que outras criaturas não suportariam. Levando em conta que cada um sente as coisas de um jeito, que a experiência de cada um é diferente mesmo em situações análogas, eu me sinto hoje como um sobrevivente. Coberto de cicatrizes que formam uma carapaça dura. Capaz de suportar o insuportável. De sair vivo seja de onde for.



Recomendações: Assista em algum lugar da internet a esquete “Joseph Climber” do grupo teatral Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo; Ouça a música “I Stand Alone“ da banda Godsmack; Experimente pôr mel no seu café.


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