Frequentemente
me deparo com situações na vida que são acidentais. Provocadas por
alguma condução abstrata dos fatos que levaram tudo a ocorrer de
uma certa forma específica que culminasse, naquele exato momento,
com um fato que aparentemente não está conectado com nenhuma de
minhas escolhas. Nessas ocasiões percebo o quanto não posso
controlar minha vida. A bem da verdade, já faz tempo que desisti de
controlar tudo que me acontece. Passei a aceitar que as decisões que
eu tomo são uma minúscula parte de um todo muito maior que sequer
sou capaz de compreender, quanto mais controlar. Essa generosa dose
de caos está presente nas vidas de todo mundo. Por mais que nos
esforcemos para ter uma vida feliz, que persigamos nossos sonhos, que
organizemos tudo ao nosso redor, a maior parte do que nos acontece
não está sob nosso comando.
De
fato as escolhas que fazemos são, sim, importantes e acabam se
desdobrando em consequências de grande relevância. É preciso ser
responsável e escolher bem antes de tomar decisões. Mas chamo aqui
a atenção para aquilo que não se pode calcular, para as
eventualidades e resultados inesperados que obtemos ao longo da nossa
jornada e que acabam preenchendo a maior parte do que nos acontece.
Perceber
essa característica da vida foi bem importante para entender a minha
condição psicológica, e penso que seja útil para outras pessoas
também. Perceber que, embora sejamos responsáveis por tomar
decisões e escolher caminhos, nem tudo o que acontece na nossa vida
advém das nossas escolhas. Aliás, de forma absoluta muito pouco
está realmente relacionado. Existe um sem número de fatos e
situações que ocorrem conosco diariamente por razões que nunca
seremos capazes de compreender. A cadeia de eventos que acontece fora
do nosso campo de visão e envolve as escolhas e consequências das
vidas de outras pessoas interferindo na nossa é praticamente
infinita aos nossos olhos. Até mesmo coisas mínimas como esquecer
um objeto num lugar ou decidir por um prato ao invés de outro no
restaurante podem fazer parte de um emaranhado de eventos de
diferentes graus de importância nas vidas de pessoas que nem mesmo
sabemos da existência. E, da mesma forma, nossa vida é influenciada
por fatos alheios o tempo todo, criando as opções para escolhermos
ou impondo situações para a qual devemos enfrentar sem que tenhamos
feito nada, ou quase nada, para provocar.
Esses
fatos dos quais não temos controle podem ser ruins, como num dia
ruim, ou podem coroar nossa vida de um sucesso inesperado que traz
imensa alegria. Estamos sempre à mercê do que pode vir a nos
acontecer sem saber o que vem pela frente. Torcendo para que nossos
planos deem certo ou para que as coisas mudem para melhor, sem
efetivamente poder ter certeza de nada. Somente nos restando a opção
mais sábia de aceitar o que vier e prosseguir com nossa vida da
melhor forma que puder, seja num cenário favorável ou lidando com
sofrimento. Percebendo isso é que interpreto o nome deste blog,
Fazer o Certo Agora, como uma filosofia pessoal eficiente para
enfrentar qualquer situação que surja.
Por
mais que se tente relativizar os conceitos de certo e errado, se
formos bem sinceros conosco mesmos saberemos em nossos corações
quando uma atitude ou palavra dita são certas ou não. Temos como
saber em nossas consciências que ser arrogante não vai nos levar a
uma vida feliz, sabemos que se usarmos drogas para recreação
estamos arriscando perder tudo para o vício, sabemos que chegar
atrasado atrasa a vida de todos e que não valorizar os tesouros que
temos nos faz empobrecer. Depois de uma idade, que varia de pessoa
para pessoa, fica bem claro como reconhecer qual é o certo a se
fazer. Então não podemos argumentar não saber o que é o mais
certo a ser escolhido, pois sabemos, sim, de fato, o que é o mais
certo e mais justo. O que é difícil, muitas vezes, é
especificamente suportar o desconforto de fazer o certo. Fazer a
escolha difícil. Isso sim. Geralmente fazer o certo não é a
escolha mais confortável. Mas, saber o que é o certo a ser feito,
sentir entre as opções qual é a certa, isso sempre temos como
saber.
Embora
não tenhamos controle da nossa vida, nos restando apenas pequenas
escolhas a serem tomadas em um imenso e complexo jogo de causas e
efeitos, existe a opção de condicionarmos nossa atitude ao ponto de
fazer todas as escolhas segundo uma perspectiva. Nesse caso a maioria
das nossas decisões se dará no “piloto automático”, até mesmo
por reflexo, em consonância com os protocolos que assumimos. Se
deixamos um sentimento específico controlar nossas escolhas, tudo
que fizermos nos conduzirá por um caminho de vida que seja
condizente com esse sentimento. Entraremos em situações que foram
guiadas por essas escolhas. E o sentimento em questão acabará sendo
uma espécie de norteador do que nos acontece. Da mesma forma, se
optarmos conscientemente por fazer sempre a “escolha certa” nas
decisões importantes, se focarmos nossa atitude em fazer o certo
nesse exato momento, com o passar do tempo ficamos mais e mais
condicionados a tomar decisões e fazer escolhas que sejam corretas
segundo nossos mais sinceros e íntimos sentimentos e percepções.
A
principal vantagem nisso está no longo prazo. Acumular escolhas
feitas com a genuína intenção de fazer a coisa certa nos livra em
grande quantidade do peso da culpa e do arrependimento de ter feito
uma má escolha. Podemos pensar que, independentemente do que estamos
passando no momento, não foi por um erro nosso. Não estamos sendo
vítimas da nossa própria falta de caráter ou algo que o valha.
Seja lá o que forem as consequências das nossas escolhas, o que
está nos acontecendo é o certo a acontecer. Por que no que nos
coube escolher, buscamos verdadeiramente fazer sempre a escolha
certa. Muitas vezes optando pelo caminho mais difícil, sem trair o
princípio de fazer o que é certo.
Por
isso, Fazer o Certo Agora significa tomar boas decisões como um
investimento na própria vida. Sabendo que isso não vai garantir um
futuro lindo e perfeito, porque nada nesse mundo pode garantir isso,
mas oferecendo gradativamente um estado de calma para si mesmo quanto
ao que acontece de fato em relação ao que poderia ser. Continuamos
a mercê da sorte, só que bem mais blindados quanto à sentimentos
de auto sabotagem. Nos condicionando a fazer a coisa certa por
instinto. Colhendo tanto as consequências boas quanto as difíceis
que a vida oferece a todos o tempo todo, mas com a certeza de não
estar criando cenários ruins, nem para nós mesmos nem pra ninguém,
por culpa das nossas falhas morais e irresponsabilidades.
Sugiro
que, se isso for alguma novidade para você, experimente a sensação
de buscar fazer tudo certo em sua vida por uns dias. Tente fazer o
melhor possível, dando atenção aos detalhes, mas sem se perder em
pequenezas. Tente andar na linha, fazer o certo agora, nesse
instante. E observe o quanto isso vai reverberar nos fatos que te
cercam no dia a dia. E sobretudo, repare nos sentimentos que você
nutre por você mesmo com o passar do tempo.
Fazer
o certo no máximo de escolhas diárias possível tem sido o norte
das minhas decisões desde que me recuperei do último acidente que
quase me ceifou a vida. E a cada dia que passa percebo com mais
intensidade ser esse, na verdade, o caminho. É uma escolha geral,
que norteia as outras escolhas. Se por um lado não impede que venham
dias ruins, por outro vai garantir que não me sinta mal comigo mesmo
por ter um dia ruim. Se o que nos resta é fazer umas poucas
escolhas, que passemos então a fazer boas escolhas, escolhas certas.
E que a vida siga seu rumo.