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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Sobre a amizade


Apesar de nutrir um gosto intenso pela solitude, ter uma necessidade de estar sozinho para organizar os pensamentos e aproveitar o tempo, reconheço que não conseguiria levar uma vida de solidão absoluta. Somente consigo usufruir do prazer de estar sozinho quando é voluntário, uma opção entre outras possibilidades. Nunca pensaria em me isolar totalmente do contato com as pessoas, mesmo que essa ideia por vezes surja entre meus pensamentos mais utópicos.

Fui uma criança um pouco diferente das outras. Com gostos diferentes e uma curiosidade maior do que a maioria das outras crianças que me rodeavam. Desde cedo fui apaixonado por livros, mesmo antes de saber ler, documentários, histórias e tudo que me levasse a aprender ou criar. Lembro de considerar os melhores brinquedos que tive um mini kit de química que ganhei dos meus pais e os diversos conjuntos de ferramentas que de tempos em tempos alguém me dava de presente, com os quais brinquei até que se acabassem. Brinquedos bem diferentes das populares bolas e times de futebol de botão da época. Por ter um gosto diferente dos meninos e meninas da minha idade, que se encantavam por temas como esportes e artistas da televisão enquanto eu me divertia com filmes de terror e ficção científica, desenvolvi formas de passar o tempo e me entreter sozinho. Criando histórias, personagens e realidades que serviam de cenário para aventuras que só existiam na minha imaginação. Com o tempo, acabei me tornando um adulto com gosto por passar um tempo sozinho, fazendo coisas comigo mesmo. Mas sem que isso fizesse de mim uma pessoa solitária, aliás, muito pelo contrário. Sempre tive a sorte de conhecer pessoas boas e compartilhar momentos de amizade e alegria, amigos com os quais pude viver minhas próprias aventuras fantásticas e contar em momentos de dificuldade. Apesar não serem muitos, sempre tive ótimas pessoas com quem estar lado a lado ao longo da vida.

Hoje em dia posso dizer que sou abençoado com os melhores amigos que poderia ter. A maioria vindos da adolescência e começo da vida adulta. Pessoas com quem mesmo que fique meses ou anos sem falar, quando nos encontramos a conversa continua de onde parou. Alguns moram geograficamente longe, outros na mesma cidade, mas todos sempre à distância de um simples contato por telefone ou pela internet. Sem melindres ou formalidades.

Em momentos onde estive confuso, tomei decisões ruins e criei um ambiente ruim para minha vida, nunca estive verdadeiramente sozinho. Mesmo que não pudesse fazer nada para mudar minha situação, na maioria das vezes por burrice minha mesmo, sempre pude contar com quem se importasse e se preocupasse comigo. E sei o quanto isso é raro, o quanto é valioso. Há quem não consiga fazer um único amigo verdadeiro ao longo de toda a vida enquanto eu simplesmente não consigo sequer imaginar como seria minha vida sem ter a amizade de algumas pessoas especiais.

Foram amigos que estiveram comigo quando eu odiava o mundo e desprezava minha própria vida. Foi com amigos que dividi as angústias e irresponsabilidades da imaturidade. Com quem compartilhei opiniões que já não tenho mais, mudei de ideia e de aparência várias vezes, procurei ajudar e também busquei por ajuda, dormi na casa, reparti segredos, bebidas, refeições e colecionei lembranças. Foram amigos que me resgataram do fundo do poço e estiveram comigo mesmo nos momentos mais complicados.

Se há algum sentido na vida, certamente passa por fazer e cultivar amizades. Muito além de cumprir obrigações sociais como felicitar nos aniversários, visitar com frequência e ir à festas juntos, cultivar uma amizade é fundamentalmente um sentimento. Nutrir por alguém um misto de respeito e bem querer incondicional, ou seja: sem impor condições. Alegrar-se genuinamente ao ver uma foto publicada em rede social, enviar uma mensagem de conteúdo aleatório ou gastar um tempo relembrando momentos importantes mesmo quando se está sozinho. É reconhecer no outro uma parte de si, um vínculo que extrapola qualquer barreira física ou temporal. É alimentar um sentimento de família por pessoas que não compartilham laços sanguíneos. É um trabalho de longo prazo que exige, sim, sacrifício e a remuneração é subjetiva. Uma espécie de projeto para a vida toda no qual o objeto é a manutenção a qualquer custo de um sentimento cada vez mais profundo de aceitação dos defeitos e admiração pelas qualidades. É apreciar a companhia silenciosa e se comunicar por olhares e expressões faciais.

Cultivar boas amizades viabilizam o próprio exercício da vida. Dá sentido à existência, ajuda a manter o pé no chão quando o mundo se abala. Serve de âncora, de porto seguro em meio ao mar perigoso e revolto que é a vida diária. São dos amigos as vozes que ecoam em nosso interior quando tomamos uma decisão difícil ou lidamos com as consequências de uma uma escolha ruim. É nas pessoas que amamos que pensamos quando estamos em perigo, quando nossa vida está em jogo.

Se posso dar um conselho no dia de hoje é esse: valorize as pessoas boas que chegam na sua vida. Seja gentil e procure alimentar internamente os sentimentos por quem se revela importante. Cultive amizades como quem cultiva plantas que um dia virarão árvores. Doe sua amizade de coração aberto, sem exigir nada em troca. Cuide e proteja os seus amigos o máximo que puder. E pense neles, relembre das histórias e reviva o que tiver de bom sempre que a situação ficar tensa na sua vida. Será muito mais fácil andar em meio aos caminhos assustadores se não estiver sozinho. No final, tudo que vai nos restar mesmo é a diferença que fizemos nas vidas de outras pessoas. E se essa diferença for a de uma sólida e sincera amizade, então teremos certeza de ter feito a coisa certa.

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