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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Relato, parte 2 - Escolhas ruins


Os meses se arrastavam comigo naquela condição deplorável. Família e amigos faziam tudo que podiam para ajudar mas eu simplesmente estava preso naquela condição. Deprimido em tempo integral. Por vezes ainda tomava alguns porres, mesmo tomando medicamentos controlados. O que entristecia as pessoas que gostavam de mim. Mas não tinha o que fazer, eu não estava no comando de nada na minha vida e vez por outra decidia que me entorpecer de álcool era a melhor coisa a se fazer.

Por intermédio da minha mãe, iniciei tratamento com um outro psiquiatra e fiz também algumas seções de análise. Mas não era comprometido, não tomava os remédios nos horários certos, bebia, faltava às sessões com a psicanalista. Desperdiçava todo esforço que era feito por mim. E passava os dias afundado em pensamentos tumultuados e autopiedade. Por estar sem trabalhar e não estar cursando nada, me sentia um inútil, a vida não tinha sentido. Eu não via perspectiva de melhora nas minhas condições e esperava cada vez menos de mim mesmo.

Em um momento de desespero, pedi para ser internado em alguma clínica. Pensei que precisava de um tratamento mais intenso do que repouso e medicamentos, e achava que encontraria isso numa internação. Depois de procurar bastante, acabamos encontrando um lugar em que poderia ficar. Um grande e antigo hospital psiquiátrico que atendia pelo sistema público de saúde. Foi uma das piores experiências da minha vida.

Por ser novato, fiquei na ala de contenção, juntamente com algumas dezenas de homens nas mais variadas condições mentais. O ambiente era extremamente desconfortável. Usando roupas velhas e sem dono, dadas pelos enfermeiros, cercado de lunáticos e viciados de todos os tipos. Encarcerado em uma pequena casa com grades no meio do quintal do hospital. Fiquei sabendo que a “segurança” do local era feita pelos próprios internos, um grupo de homens que agrediam fisicamente quando a administração julgasse necessário. No quarto em que fiquei com outros vinte havia um sujeito que os internos acusavam de ter tentado estuprar a própria irmã. Pessoas escorrendo saliva, presas em um comportamento repetitivo diante da parede, andando de um lado para o outro sem motivo, banho coletivo, refeições dentro de um pote somente podendo usar uma colher, internos agindo a serviço do hospital dando ordens para se levantar, comer, tomar banho... Passei dois dias e uma noite naquele lugar e, por obra da providência divina, os enfermeiros gostaram do meu comportamento e permitiram que recebesse a visita da minha mãe logo no segundo dia, o que não era o procedimento padrão. Fui informado que o isolamento era de, no mínimo, 7 dias. E antes disso nem mesmo a visitação de parentes era permitida. Mas, como eu disse, milagorasamente gostaram do meu comportamento e permitiram que eu falasse com minha mãe. Para quem pedi em lágrimas e soluços que me tirasse imediatamente de lá. Com muito esforço e algumas ameaças, minha mãe conseguiu que minha internação fosse revogada e naquele mesmo dia pude ir para casa, onde chorei por alguns dias, feliz por estar longe daquele lugar.

O tempo passou e eu seguia irresponsável quanto aos conselhos do psiquiatra e às seções de terapia. Não sentia um mínimo de motivação para fazer o certo e desperdiçava os dias dormindo. Minha mãe me contou posteriormente que o médico fez ela assinar um termo de responsabilidade sobre mim, por ser sim um paciente cuja internação era recomendada. Eu me negava terminantemente a ser internado novamente, mesmo com o argumento de uma clínica melhor. Por fim, acabei abandonando todo o tratamento de vez. Parei com as seções e com os remédios por conta própria. A situação permaneceu ruim e repetitiva por mais ou menos dois anos.

Eu tinha então em torno de 25 anos quando por influência de um amigo passei a me ocupar com planos de um futuro melhor. Embora o álcool continuasse bastante presente na minha vida, iniciei um período de desenvolvimento bem importante que acabou norteando os principais acontecimentos daquela fase em diante. Um certo dia recebi um panfleto de propaganda de um curso de idioma em uma associação sem fins lucrativos e resolvi me inscrever. Foi o começo de uma fase de esforço e descobertas. Fiz o curso até o final e participei como voluntário da organização da associação por um tempo. Foi um tempo importante onde minha vida parecia começar a fazer sentido. Nesse espírito comecei uma graduação em uma faculdade que cuja mensalidade era barata, perto de casa, e em função do curso acabei sendo impelido a trabalhar na área, em um estágio.

Livre das principais condutas destrutivas, mas longe de estar bem, passei a me dedicar ao trabalho e aos temas de estudo da faculdade. Tudo parecia melhor, não fossem os acessos de tristeza e a constante sensação de mal iminente que me acompanhava todos os dias. Os anos passaram e sempre que pude tentei anestesiar a angústia com a bebida, o que nunca foi uma boa ideia.

O tempo passou e entre idas e vindas me formei e fui promovido no trabalho algumas vezes, conquistando espaço em um mercado bastante concorrido. O trabalho havia se tornado minha principal preocupação, diversas vezes sendo a prioridade das minhas escolhas. Mesmo diante de questões pessoais e familiares importantes os compromissos do trabalho sempre prevaleciam. Com isso minha vida foi se tornando mais e mais o que vivia no trabalho, abrindo mão de quase tudo fora dele.

Ocorre que o trabalho em si era digno, porém inacreditavelmente estressante. O convívio com pessoas de péssima índole, as tarefas sem sentido, a sensação de estar me dedicando tanto a algo que não estava edificando nada no meu futuro me corroíam por dentro. A cada dia que passava, eu me tornava mais e mais cheio de frustração, ódio e rancor. Passei a ter problemas cada vez mais graves com insônia e crises de ansiedade. O trabalho que no começo me deu sentido à vida, passou a me fazer mal e ser a causa de problemas psicológicos ainda piores que os anteriores. Por ser bastante irresponsável com as contas pessoais, vivia com graves problemas financeiros, endividado, estressado e frustrado. Sem a possibilidade de um futuro melhor, apesar de trabalhar muito. Seguia em frente achando formas de lidar com os problemas que surgiam e arcando com as consequências das escolhas que fazia. A vontade de me entorpecer e sair da realidade era constante, não suportava a vida que vinha levando. Já não era um inútil completo, mas o que tinha me tornado era muito frustrante. Buscava fontes de prazer e alívio nos mais variados meios. Então comecei a buscar substâncias que me aliviassem o sofrimento.

No começo foram diversos comprimidos, conseguidos através de contatos que os viabilizavam sem qualquer tipo de receita. Experimentei calmantes e controladores de humor que pesquisava na internet, mas nada parecia ser suficiente. Me automedicava sem nenhum critério. Foi quando decidi apelar para a maconha. Passei a fazer uso gradualmente, uma ou duas vezes por semana no começo e diariamente depois de três anos. A erva passou a ser minha válvula de escape, tudo parecia tolerável se eu pudesse fumar e me chapar nas horas de folga. Segui trabalhando e enfrentando os problemas da vida cada vez mais imerso no mundo canábico. Descobri uma vasta e profunda cultura do uso da planta e sentia que havia encontrado a resposta para a angústia permanente da minha vida.

Sem perceber, a droga foi ocupando bem mais espaço do que eu havia planejado e eu já não queria mais ver o mundo sóbrio. Passava sob efeito dos canabinóides praticamente todos os dias, muitas vezes começando o dia fumando antes do café. Ainda tinha crises de insônia e sentia que as coisas não iam bem. Mas já não me importava tanto.

Levei as coisas dessa maneira até o dia em que aconteceu o que hoje chamo de o pior dia da minha vida. Tinha 34 anos quando surtei.

Esse é um momento bastante importante desta breve narrativa resumida dos fatos e por isso darei uma atenção especial. A seguir, descreverei como foi o surto que tive e quais foram as consequências. Assim como o processo de recuperação e as reflexões que pude fazer sobre tudo o que aconteceu.

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