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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Ocupar o tempo


É muito terapêutico cumprir compromissos. Aderir a iniciativas que demandem trabalho e dedicação, como fazer um curso ou iniciar uma nova atividade regular. Assumir o compromisso de produzir algo num prazo pré estabelecido é algo que faz muita diferença no dia a dia do enfrentamento dos sintomas da depressão. Ocupar-se com algo útil, que desperte o sentimento de estar comprometido com algo, tornam os dias muito mais fáceis de serem vencidos do que simplesmente agir no piloto automático enquanto o tempo passa. Por mais que muitas vezes o trabalho principal ocupe quase o tempo inteiro do nosso dia e não seja uma ocupação na qual tenhamos prazer ou orgulho de realizar, sempre é possível ocupar o pouco tempo que nos resta na vida pessoal com algo que fazemos por gosto. Mesmo que seja um hobby sem nenhuma pretensão. Mesmo que seja apenas um ensaio do que seria um sonho. Essa ocupação do tempo com algo que possamos fazer para nós mesmos pode ser muito mais do que uma bengala para levar os dias, pode ser, em verdade, um motivo para seguir em frente quando as coisas ficam confusas ou escuras demais.

Atualmente me aproximo da metade do curso de Direito e, frequentemente, preciso dedicar o tempo que usaria em meu lazer para produzir textos e trabalhos pedidos pelos professores, além de estudar para passar em provas bem difíceis. Nas últimas duas semanas estive envolvido com a produção de um artigo e a preparação para a apresentação em um seminário em sala de aula. Fiz a pesquisa do tema, elaborei um texto base, depois lapidei até ficar apresentável, inseri as referências e os créditos necessários e enviei. Depois passei uns dias estudando o que tinha escrito e ensaiando a apresentação. No fim correu tudo bem, consegui entregar um artigo decente e fazer uma explanação satisfatória diante da turma. Fiquei muito nervoso nos dias que antecederam a apresentação e principalmente na hora de falar, mas deu tudo certo no final das contas. A satisfação de concluir um trabalho complicado é muito grande, é como tirar um peso das costas. As expectativas de que as coisas fossem bem ocuparam minha mente por dias, dando um bom motivo para cumprir com meus compromissos e forçar um otimismo em horas de maior ansiedade. Sustentaram meu humor com o sentido de dever. Ter essa obrigação me ajudou a passar pelos dias cercados de tarefas que não gosto de fazer, mas que são necessárias. Fazer uma outra graduação foi uma escolha importante nesse sentido, pois tem me dado muito com o que me ocupar. E a sensação de ter algo sério e útil para fazer traz sentido à vida.

Quando estive internado, poucos anos atrás, era incentivado que fizesse atividades em grupo os outros internos. Ofereciam tarefas manuais, como artesanato por exemplo. Passar os dias dentro de uma clínica de repouso pode ser penoso se não houver um sentido na espera, se não tiver uma ocupação para preencher o espaço. Mesmo para mim, que tenho grande habilidade em me entreter sozinho, chega uma hora que simplesmente descansar e ler o dia todo se torna insuportável. Foi quando me me aproximei dos funcionários que cuidavam das tarefas e me ofereci para ajudar em algo. Passei uns dias pintando brinquedos de madeira e, por mais boba que seja essa tarefa, foi o que me animou. Ter algo para fazer, algo lógico para depositar o tempo, faz muita diferença no humor e na percepção do mundo.

Tenho um emprego digno e ordenado. Trabalho basicamente resolvendo problemas diários e lidando com imprevistos. Mas já tem bastante tempo que o ambiente onde desenvolvo minhas funções não me faz bem. Faço o que faço por ser a opção que surgiu na minha vida, não por entusiasmo. É um sentimento de “é o que tem pra janta” que me move todos os dias, enquanto espero ansiosamente por períodos de folga. Gostaria de dedicar as tantas horas do meu dia gastas com burocracia e joguinhos de poder para fazer outras coisas, me sentir mais útil, construir algo real. Queria que meu trabalho principal tivesse um sentido maior, que me fizesse sentir realmente útil. Queria estar construindo algo. Mas, infelizmente, essa não é uma opção no momento. Sou grato pelo que tenho e faço o melhor que posso para retribuir os privilégios que posso usufruir. Sei que muitos gostariam de estar no meu lugar. Eu mesmo já estiver em situações onde o que tenho hoje seria visto como o paraíso. Por isso sigo cumprindo com meu dever, preenchendo meus dias com obrigações que não gosto muito de fazer mas que couberam a mim. Alguém precisa fazer o que eu faço, e nesse momento quem está fazendo sou eu. Baseio minha motivação no senso de dever.

Essa visão pouco romântica e desanimada da realidade às vezes se acumula e forma bolsões de agonia, anseio por mudanças drásticas, vontade de abandonar tudo. Mas sempre resisto e sigo em frente, repetindo para mim mesmo que preciso fazer o que preciso fazer. É o que tenho em mãos, é meu dever. Ao longo dos anos, essa sensação de não estar vivendo a vida que gostaria pesou bastante e acabou contribuindo para piorar o meu quadro depressivo. Tive que aprender a lidar com isso da melhor forma que encontrei, que foi estabelecer tarefas para mim mesmo no tempo que me sobrava. Hoje busco ocupar meu tempo fora do trabalho com tarefas que me façam sentir melhor, que tenham um sentido maior. Por isso faço outra faculdade e por isso me dedico a escrever em um blog com audiência próxima de zero. Ter para fazer algo que faz parte do que eu defini como sendo prioridade, sentir que estou investindo meu tempo em algo superior e não apenas deixando a vida me levar sem escolher nada, me ajuda a valorizar o que tenho e ter esperança em um futuro melhor. Acreditar que um dia as coisas podem ser mais intensas e úteis. Me ajuda a ver o mundo com um sentido diferente de apenas esperar o dia da morte.

Fazer o que é preciso é um ponto importante da vida. É preciso sobreviver, cumprir o básico de obrigações diárias. E geralmente o sustento vem de funções que não escolhemos, apenas aceitamos quando nos foi ofertado. Mas sempre há um tempo sobrando onde podemos dedicar para fazer algo para si, algo cujo pagamento pela conclusão é a própria satisfação de ter feito. E é com isso que tenho buscado preencher o meu tempo além das obrigações: com outras obrigações criadas por mim mesmo. Para sentir que pelo menos uma parte da minha vida é uma escolha. Sentir que sou responsável e posso dedicar meu trabalho, diretamente, para construir algo de valor. Quem sabe, e assim espero, no futuro o que poderá surgir dessa dedicação possa ser o meu trabalho principal, possa ser o meu sustento? Espero do fundo do coração que sim. Mas, se não for, pelo menos tem sido um bom jeito de ocupar o tempo. Tem me sustentado quando os pensamentos de baixa auto estima dominam a mente e me fazem sentir um inútil sem valor. Como uma estrada em que sigo andando sem saber onde estou indo. Não andando para chegar ao final, mas para simplesmente não parar de andar.


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