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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Sobre o Demônio do Meio Dia


Tenho estudado sobre a depressão. Sobre as características e as descobertas feitas pela ciência, sobre as formas mais eficientes de lidar com o chamado “mal do século”, sobre como ajudar as pessoas que convivem comigo a entender o que se passa quando tenho crises. Por indicação de um amigo, há uns dias, chegou até minhas mãos o livro O Demônio do Meio-Dia: Um Atlas da Depressão, escrito por Andrew Solomon. Uma obra fantástica e muito esclarecedora. Ainda não terminei mas, já aprendi tanto que estou recomendando a leitura a todos os amigos que se interessem pelo tema. O autor esmiúça a depressão nos mínimos detalhes, abrangendo desde as questões fisiológicas até as culturais. Listas de medicamentos, tratamentos e seus efeitos, a influência da doença nas decisões, os graus de depressão, os tratamentos alternativos, a forma como a medicina encarou o quadro depressivo ao longo da história, a influência das dificuldades financeiras nos quadros depressivos... Enquanto estou lendo, tenho a impressão de estar fazendo um curso sobre o assunto, no qual o professor se esforça para usar um linguajar o mais simples quanto possível, mesmo quando aborda aspectos clínicos complexos. De longe, essa é a melhor e mais acessível fonte de conhecimento sobre o assunto que já encontrei. E recomendo fortemente a leitura a todos que se interessam.

Entender o que acontece comigo, assim como buscar autoconhecimento, tem sido, provavelmente, o remédio mais eficiente de todos no que diz respeito a me sentir melhor comigo mesmo. Considero tanto a medicação quanto as sessões de terapia como as principais ferramentas no processo de evolução do quadro em que me encontrava quatro anos atrás, quando tive o acidente que quase me tirou a vida. Além das paranóias e traumas que tomavam quase a totalidade da minha mente na época, ainda estava cheio de frustrações fantasmagóricas e sequelas psicológicas de acontecimentos antigos. Minha visão de mim mesmo estava profundamente distorcida, o que me levava a ver somente os pontos negativos da vida, oscilando entre a raiva de mim mesmo e a autopiedade. O quadro era bastante dramático e, hoje eu sei, resultado de um longo caminho no qual me intoxiquei de sentimentos e memórias corrompidas ao longo dos anos até ficar tão encharcado de veneno que não conseguia sequer enxergar o mundo real direito. No estado em que me encontrava, poderia facilmente ficar preso para sempre em um círculo vicioso de auto destruição e decadência. Mas o que me aconteceu foi outra coisa. Nessa realidade eu reagi bem ao tratamento e pude aproveitar as oportunidades que a vida me ofereceu para voltar a ativa e manter as vitórias profissionais que com tanto sacrifício havia conquistado. E a partir dessa manutenção das estruturas pude iniciar um novo caminho, começando outra graduação, o que tem me custado bastante esforço e aumentado minha fé em um futuro melhor. Ou seja, não apenas melhorei dos sintomas, como toquei minha vida em frente e até mesmo subi alguns degraus da escada. Um resultado melhor do que o esperado.

Além do acompanhamento médico e consequente apoio químico, foi preciso muita força de vontade para que isso acontecesse como aconteceu. Hoje me sinto no meio de um caminho bom, sinto que cumpro com minhas obrigações e invisto em um futuro melhor para mim e para as pessoas que amo. Era tudo que eu precisava sentir para sair daquele poço. Foi preciso querer fazer as coisas certas com força o suficiente para não ficar apenas na vontade, mas para trazer ao mundo real as ações necessárias e dar os passos certos na direção certa. E a origem da motivação necessária veio do olhar sincero para dentro, das forças que encontrei através da análise e estudo de quem eu sou e como vejo as coisas que me acontecem. Foi graças ao esforço pelo autoconhecimento que tive forças para agir segundo o que achava certo. Foi através das ferramentas oferecidas pela psicologia, que minha terapeuta domina, que pude me ver como realmente sou e fazer escolhas diferentes do que tinha feito no passado. Foi assim que descobri o caminho. Fazer terapia com um profissional qualificado fez mais efeito do que todos os remédios e substâncias que já usei para tentar me sentir melhor ao longo de toda a vida. A bem da verdade, os problemas continuam lá, o mundo em que vivo ainda é o mesmo. Mas eu estou diferente, estou sóbrio, e tenho outras formas de lidar com as frustrações e desafios diários. Buscar por mim mesmo, viajar para dentro da minha mente, tem sido o principal remédio na minha recuperação. E somado a isso, sem dúvida, como regra básica da arte da guerra, é preciso conhecer o adversário. Saber lidar com seus avanços e reconhecer suas fraquezas. Por isso, ao mesmo tempo que me empenho tanto em me conhecer melhor, procuro ouvir histórias de pessoas que passam pelo mesmo que eu, busco referências, tento aprender com as experiências dos outros. Além de ler, assistir documentários e entrevistas com especialistas sobre o assunto sempre que posso. Para, cada vez mais, saber diferenciar o que realmente vem de mim do que vem da doença. E assim fazer escolhas melhores, sempre o mais de acordo com as minhas necessidades reais.

Fazendo um pequeno spoiler, Solomon diz no livro que escolheu o nome “Demônio do Meio Dia” para batizar sua obra por conta do que diz o Salmo 91, da Bíblia: Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia. Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia (Salmos 91:5,6). Segundo sua interpretação, a “mortandade que assola ao meio dia” é uma metáfora para o quadro patológico hoje conhecido como depressão. O que, pra mim, é bem fácil de observar como sendo coerente. A depressão é um inimigo a ser enfrentado. Um inimigo letal, que pode levar à morte o doente e, antes disso, destruir completamente sua vida fazendo com que tome caminhos terríveis, faça escolhas desastrosas e afunde em escuridão. Os efeitos psicológicos da depressão podem ser muito severos, uma vida totalmente equilibrada e ordenada pode vir abaixo, as melhores situações podem virar o inferno. O gosto pela vida pode desaparecer. Disso muita gente sabe. Mas o que não vejo muito ser comentado são os efeitos físicos da depressão. Os sintomas que chegam à mente através dos sentidos. Para quem não conhece os detalhes, é difícil explicar como se pode sentir um desânimo tão grande que nem para sair da cama para comer ou tomar banho, quanto mais trabalhar, a pessoa tem forças. Como podemos sentir febre, ter cãibras terríveis, desarranjos intestinais, como o estômago pode ficar tão sensível que o simples ato de escovar os dentes, ou ter um pensamento súbito, provocam vômitos totalmente aleatórios? Isso tudo sem estar envenenado ou contaminado por nenhum patógeno. Como uma tristeza tão forte ao ponto de causar dor física pode existir sem um motivo claro? Aliás, falando em dor, como explicar as dores pelo corpo todo, as irritantes e persistentes dores de cabeça, o desconforto extremo ao ficar em qualquer posição? A hipersensibilidade à luz, ao som, os surtos nervosos sem motivo, as crises de choro, a falta de apetite ou a fome desenfreada? E a insônia, os pesadelos constantes, a paralisia do sono? Todos esses sintomas, entre muitos outros, podem aparecer em pacientes depressivos e na maioria das vezes não se faz a conexão dos sintomas com a depressão. Procura-se por outras doenças, outras razões que não o desequilíbrio causado pela própria depressão. Isso tudo para ouvir em diversas ocasiões que é falta de força de vontade ou “frescura”, por ninguém perceber que tudo de ruim está conectado a uma doença real e séria. Depois de muito estudar, acabei descobrindo que não apenas o desânimo brutal que me derruba e a tristeza desmedida que sinto são sintomas da depressão, mas também um conjunto de inúmeras outras sensações desagradáveis que poderiam perfeitamente compor uma doença física não psíquica. Tudo acaba sendo interligado, tudo tem uma origem comum. A fraqueza resultante de tanto estresse emocional, as dores somatizadas, o mal funcionamento de órgãos. Tudo pode ser influenciado por um cérebro depressivo. Daí a necessidade de ter acompanhamento médico e usar medicamentos que ajudem a enfrentar os sintomas. Essa é uma realidade que era totalmente desconhecida para mim até alguns anos atrás. Nunca tinha parado para estudar a depressão como forma de autoconhecimento. Hoje, consciente de tantas coisas que não sabia, posso avaliar muito melhor meu quadro e agir de forma pragmática em relação aos sintomas, antes que tragam consequências mais graves. Essa maturidade traz uma outra perspectiva à situação, faz toda a diferença no enfrentamento do problema. Aceitar a depressão como uma doença crônica com sintomas variados foi um passo importante do meu despertar. Entender que as dores, as gripes fora de época, as panes fisiológicas em geral tinham conexão com a situação mental, que deveria tratar tudo como um problema só e reconhecer que sozinho não tinha forças para lidar com tudo aquilo. Perceber a mim mesmo como portador de uma condição verdadeiramente debilitante e buscar recursos para reduzir o impacto dos sintomas. Uma abordagem muito mais realista e global do problema. Somente o conhecimento foi capaz de me oferecer essa opção. Por isso valorizo tanto os estudos como parte do tratamento.

Recomendo a leitura do livro de Andrew Solomon já de início para quem quer começar a se informar sobre o assunto. Será como participar de um grande seminário onde praticamente tudo que se sabe sobre a depressão é abordado. E, somado a isso, sugiro que o tempo gasto na internet seja em parte dedicado à busca por informações das mais variadas fontes. Ler e assistir tudo o que encontrar. Essa prática em conjunto com os exercícios eficientes de autoconhecimento farão uma diferença enorme na vida de quem sofre desse terrível mal. Mesmo com um processo lento se conhecer melhor e conhecer bem o adversário serão armas importantes nas batalhas diárias que se seguirão ao longo de toda a vida.



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