Houve
dois episódios em 2019 do que acreditei ser uma recaída da
depressão. Um que durou mais ou menos um mês entre junho e julho e
outro menor na segunda metade de novembro. Precisamente em períodos
em que as atividades diárias atingem o ápice, devido ao fim do
semestre da faculdade e do trabalho. Provavelmente por não me sentir
bem trabalhando com o que trabalho e por muitas vezes sentir que não
sirvo para o curso que estou fazendo, o aumento de responsabilidades
com tarefas e prazos acaba liberando muito estresse na minha corrente
sanguínea e me fazendo sentir mal. Realmente mal. Ao ponto de achar
que o pesadelo da doença estaria voltando e aniquilaria com o pouco
que pude construir nesses anos todos de trabalho. A bem da verdade,
foram crises emocionais motivadas pelo aumento do estresse, algo que
pode-se considerar natural. Mas a sensação que tive foi de uma
iminente catástrofe se formando. Creio que muito desta sensação
esteja fundamentado no medo que sinto de voltar a ter um quadro
depressivo debilitante. Estar deprimido é como estar acorrentado da
cabeça aos pés, a vida simplesmente para de acontecer e fica-se
preso num looping de pensamentos e sensações ruins. O período em
que estive à mercê da doença me levou a caminhos muito sofridos,
arrependimentos e rancores difíceis de carregar. Foram etapas muito
tristes onde estive perdido e fiz as piores escolhas possíveis. E
morro de medo de ter que voltar para aquele lugar.
Em
outro aspecto, as coisas no meu trabalho estão em constante mudança.
O cenário já esteve bem positivo cheio de esperanças no passado,
hoje nem tanto. Tenho feito coisas para andar em direção aos meus
sonhos, iniciado trabalhos que espero serem a semeadura de uma
colheita de longo prazo na minha vida. Iniciei projetos, investi
tempo e energia em ideias que creio serem a abertura de um caminho
benéfico. Tenho plantado muito o que entendo serem boas sementes.
Mas não posso negar que a instabilidade do meu futuro no meu atual
trabalho, somado com o esgotamento da paciência em ter que fazer
coisas que desprezo, tem me enfraquecido o ânimo dia após dia. Por
ser a única fonte de sustento e por ser a inauguração de um
período no qual eu saí da posição de humilhado para a de
sonhador, acabo valorizando muito o que tenho no momento. Sentindo
medo de perder o que Deus me deu e ter que voltar à vida amarga onde
a insuficiência era a regra. Tenho medo de as coisas mudarem para
pior e ter que amargar novamente derrotas que me fizeram tão mal no
passado.
Tanto
na vida emocional quanto na vida profissional o medo é o mesmo, ter
que regredir e voltar ao quadro tenebroso em que me encontrava tempos
atrás, quando a vida não fazia sentido e pra onde eu olhava só via
escuridão. E esse medo é tão real que chega a prejudicar minha
rotina, interferir no meu sono, somatizar doenças no meu corpo.
Talvez essa seja a pior coisa que possa me acontecer: ter que voltar
para a vida que eu levava antes de despertar para as
responsabilidades de uma vida em busca de fazer o certo.
A
chegada do fim do ano motiva os pensamentos de planos para o futuro.
Por isso me vejo nessa situação de avaliar as possibilidades e
ensaiar cenários. E, infelizmente, tenho uma tendência cruel de
esperar sempre o pior. Mesmo que nos últimos anos os acontecimentos
tenham sido no sentido do exato contrário, com importantes vitórias
e conquistas sendo somadas à minha biografia. Não sei o quanto
desse pessimismo é simples mau hábito e o quanto é sintoma da
própria depressão controlada que tanto me preocupa. Não me lembro
de qualquer época em que esperei o melhor ao invés do pior. Acho
que faz parte de quem eu sou, e, talvez, seja um bom aspecto a ser
trabalhado para mudar. Enfrentar as situações com esperança, com
fé. E seguir andando na ponte escura que é a vida com coragem,
mesmo sem saber o que há pela frente. Eu gostaria de viver assim.
Por isso, estabeleci que no ano que vem me esforçarei bastante para
mudar esse aspecto da minha personalidade. Abrir mão do pessimismo,
como quem se livra de um vício. E passar a viver aproveitando melhor
o presente, grato e satisfeito com o que tenho ao invés de
preocupado e triste de medo de perder. Creio ser essa uma boa meta
para 2020.
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