Essa
semana tem sido bem complicada. Percebi no último sábado que um
desânimo muito grande vinha crescendo em meu interior. Uma vontade
de não ter vontades, associada a uma tristeza enorme. Acabei
deixando para depois o que tinha planejado fazer naquele dia e repeti
a decisão no domingo, passando o final de semana todo deitado sem
fazer nada. Geralmente existe um limite para se ficar deitado e não
fazer nada, chega uma hora que a pessoa já não aguenta mais ficar
na cama e simplesmente precisa se levantar e fazer algo. Mas esse
limite não existe quando estou assim. Fico apenas deitado sem reação
nenhuma enquanto as horas passam. O desânimo aumenta ao ponto de não
conseguir sair da cama nem para saciar a fome. É como se toda a
vontade que existe em mim deixasse o meu corpo e sobrasse só uma
carcaça inútil cheia de pensamentos doentios. Sim, porque apesar de
estar incapacitado por fora, a mente funciona a pleno vapor, em um
turbilhão de pensamentos de culpa e cobranças. Eu consigo perceber
o mal que ficar parado está me fazendo, cobro atitudes de mim mesmo,
me xingo, fico triste e desesperado com o que será de mim dali para
frente. Mas meu corpo não reage, simplesmente não consigo reunir
forças para levantar e fazer o que é preciso.
A
situação piorou bastante no domingo, quando comecei a ter acessos
de choro. Estava cansado de ficar ali naquela condição mas não
sabia o que fazer. Os pensamentos passaram a ser bem catastróficos e
até mesmo as coisas que estavam em bom funcionamento passaram a ser
um problema. Me perdia na ideia de que as coisas que tinha feito
durante a semana dariam errado no dia seguinte e eu teria que
enfrentar uma vergonha imensa por ter falhado. Olhava para meu corpo,
deitado sobre a roupa de cama suada, e pensava o quanto imprestável,
burro e fraco eu era. Havia perdido totalmente o controle dos
pensamentos e estava preso em um círculo autodepreciativo. Dormi e
acordei várias vezes durante o dia, não fiz nada do que tinha
planejado fazer.
Na
segunda feira acordei em cima da hora para ir trabalhar, olhei para o
relógio e senti a onda de pensamentos vir com uma violência
gigantesca. Esmagando minha percepção. Sentia dor nos músculos
faciais que são usados para chorar, e uma contratura dolorosa na
garganta, característica de choro engasgado. Precisava ir ao
banheiro mas não conseguia mobilizar forças para isso. Estava
debilitado, enfraquecido, não conseguia sair da cama nem tomar
nenhuma atitude. Com esforço, peguei o celular e enviei uma mensagem
ao trabalho, dizendo que estava doente e que chegaria mais tarde.
Mas acabei ficando imóvel e sentindo aquela angústia até muito
tarde naquele dia. Perdendo o dia de trabalho. Não é a primeira vez
que isso acontece, embora fizesse bastante tempo desde o último
episódio. Passei o dia deitado sendo carregado por uma enxurrada de
pensamentos odiosos, no qual já contava como certa a demissão e
perda de tudo que conquistei profissionalmente ao longo de anos.
Minha cabeça doía e sentia um misto de medo, raiva e tristeza.
Estava desesperado. A doença havia voltado e eu perderia tudo,
deixaria todos desapontados, decepcionaria as pessoas que confiam em
mim. A vida novamente seria destruída e eu ficaria a mercê da ajuda
de bons corações.
Então
no fim da tarde a coisa toda deu uma reduzida na pressão.
Inexplicavelmente comecei a me acalmar e consegui levantar. Fui até
o banheiro, finalmente, e tomei um bom banho depois de dois dias
deitado. Higiene pessoal sempre traz um bem estar importante, e com o
banho consegui me animar e fazer uma refeição. Resolvi que iria
para aula, apesar de tudo que tinha acontecido, e que daria o meu
melhor para aprender algo naquele dia. E foi o que eu fiz. Não posso
dizer que rendeu muito, mas foi bom sair de casa.
O
mal estar ainda persiste enquanto escrevo esse texto, mas tenho
conseguido cumprir com meus compromissos. Não faltei mais nada, nem
cheguei atrasado. Não deixei de fazer nada que era obrigado a fazer.
Apesar de estar sentindo um vazio enorme no peito e uma vontade
constante de deitar e dormir em qualquer lugar que esteja. Tenho
falado pouco, só o necessário, e me isolado o máximo possível do
contato com outras pessoas. O silêncio parece ser um grande aliado.
Minha psicóloga recomendou que procurasse o psiquiatra para revisar
os medicamentos, talvez esteja na hora de trocar a medicação de
novo. Ainda sinto o rosto doendo, ainda estou segurando o choro. Acho
que deveria procurar o médico mesmo, talvez esteja na hora de testar
um novo tratamento. Mas ainda não me animei a fazer isso. A
medicação que estou tomando agora tem sido suficiente por tanto
tempo, já me acostumei com ela. Uma parte de mim não quer mudar.
Mas penso que minha psicóloga esteja certa em querer mexer nisso
para ver se melhoro.
Vou
levar as coisas da melhor forma possível e esperar que fique tudo
bem. Sinto que nesse momento o principal é não permitir que a
doença me ponha na cama tempo suficiente para me fazer perder coisas
que construí com tanto sacrifício. Fazer o certo, nesse momento, me
parece ser resistir e fazer o máximo que puder para não cair. Estou
novamente em guerra contra um inimigo interno. E mesmo sem fazer
ideia de como ele ressurgiu, preciso me concentrar em ficar de pé e
cumprir com minhas obrigações. Espero que esse fantasma suma logo e
tudo volte ao normal o quanto antes.
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