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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Boas escolhas


Entender que tenho um problema e que é minha responsabilidade lidar com isso foi um passo importante na minha vida. A primeira vez que percebi algo errado foi ainda na adolescência, quando por volta dos 14 anos passei a sentir uma angústia inexplicável e persistente sem razão aparente. Nessa época cheguei a procurar o posto de saúde da cidade onde morava para conversar com uma psiquiatra. Infelizmente na ocasião a médica disse que meu caso não tinha a gravidade necessária para ser tratado com ela naquele local e me recomendou buscar ajuda de profissionais particulares. Como não dispunha de condições e nem opções, já que não haviam profissionais atendendo na minha pequena cidade, deixei quieto e passei a lidar sozinho com o problema. Dali em diante tive uma vida conturbada, fiz inúmeras escolhas ruins e coloquei minha vida em risco diversas vezes. Sempre acompanhado de um sentimento que oscilava entre a euforia desproporcional e a tristeza profunda e inexplicável. Segui minha vida com um comportamento irresponsável e perigoso, lidando de forma caótica com o que sentia e deixando os pensamentos mais idiotas crescerem e se multiplicarem na minha cabeça. Foram anos de decisões estúpidas e interpretações erradas do que estava vivendo. A autodestruição era praticamente a minha principal filosofia de vida.

Depois de alguns episódios que já narrei aqui, entre os quais passei por duas tentativas diretas de suicídio, sendo a segunda durante um surto esquizofrênico, percebi tardiamente que o problema que carregava na minha alma era sério demais para lidar sozinho e a forma como vinha lidando com o problema até aquele momento só vinha trazendo desgraça e tristeza para mim e para as pessoas que se importavam comigo. Foi quando entendi a gravidade da situação e decidi mudar de estratégia. No primeiro momento, ainda internado em uma clínica, passei a simplesmente aceitar a ajuda que me era oferecida pelas pessoas que estavam sofrendo junto comigo por tudo aquilo. Resolvi abrir mão de tomar todas as decisões sozinho e dar o braço a torcer, fazendo o que me pediam e esperavam de mim sem questionar os métodos ou tentar adivinhar os resultados. Fiquei nessa condição passiva por um tempo no qual foi bastante complicado lidar com as emoções e distúrbios que causei a mim mesmo por irresponsabilidade e burrice. Foi uma época em que reconheci que era fraco demais para enfrentar o problema e passei a fazer tudo que as pessoas em quem confiava, e confio até hoje, diziam para fazer. Foi como começar a vida de novo, como passar novamente por um período de infância no qual eu não decidia o que fazer sozinho. Era como ser novamente tutelado por um responsável, ou, no caso, por alguns responsáveis.

Para minha surpresa, em alguns meses o comportamento que havia adotado em face da situação passou a trazer alguns resultados muito positivos. Graças a ajuda dos parentes, amigos de fé e dos profissionais que estavam me tratando eu comecei a reagir diferentemente e, aos poucos, o meu entendimento da situação foi se tornando cada vez mais claro. Foi uma fase muito importante na qual passei a sentir aumentar gradativamente a lucidez na minha mente, de uma forma que não sentia desde o final da infância. Lentamente meus olhos foram se abrindo e pude ver coisas que nem lembrava mais, me encontrar de novo, reconhecer o que era realmente parte de mim e o que era causado pela doença. Renasci.

O quadro em que eu me encontrava inicialmente era grave mas, graças ao trabalho de várias pessoas que me ajudaram, fui gradativamente me recuperando e enxergando melhor tanto a mim mesmo quanto o mundo a minha volta. Quando então comecei a perceber que era hora de novamente assumir o controle das minhas decisões.

Já bem melhor, mais lúcido, sóbrio e com a mente acalmada, passei a fazer pequenas escolhas para mim mesmo. No início decidindo sobre coisas pequenas como o uso de redes sociais e o tipo de conteúdo que consumiria na internet de forma geral. Fiz uma grande higiene mental, eliminei tudo que julguei, com os novos olhos, ser prejudicial. Alimentei o que julgava ser benéfico e deixei de lado o que parecia fazer mal. Abri mão da necessidade de solidão e sentimentos arrogantes de auto suficiência em troca de apreciar a companhia de pessoas importantes para mim. Enfrentei vícios e maus hábitos, busquei evoluir no meu mundo particular. Sempre amparado pelo apoio amoroso das pessoas e pelo tratamento, que seguia a risca. Depois de um tempo passei a me sentir mais seguro e comecei a fazer escolhas maiores, iniciei uma nova caminhada profissional de longo prazo, passei a buscar conhecimento como um estilo novo de vida, reformulei meu círculo de relações pessoais e até mesmo mudei minha visão religiosa do mundo. Foi uma transformação completa.

Hoje vivo uma vida agitada, cheia de compromissos e responsabilidades. Saí da atitude totalmente passiva do início do tratamento para ser protagonista de todas as decisões. E enfrento hoje as dificuldades de uma vida normal de quem busca evoluir. Estou em um momento de transição, consciente de estar criando um futuro diferente e melhor para mim e para as pessoas que amo. Buscando da forma certa alcançar objetivos positivos e viver bem na maior parte do tempo. Depois de tantas escolhas desastrosas, me concentro em fazer boas escolhas, em tentar acertar o passo e andar na linha. Cuidar de mim mesmo e de todos a minha volta. Experimento um novo jeito de viver. Uma vida com significado, com motivo de ser. Sem nunca abrir mão da vigilância, sempre mantendo os cuidados do tratamento e não abrindo exceções para comportamentos negativos. Longe de ser um paraíso, passo sim por muitas dificuldades e enfrento diariamente uma luta contra mim mesmo para não ceder ao desânimo e não deixar pensamentos destrutivos proliferarem na minha mente. Mas neste momento sinto que estou indo para um bom rumo, fazendo o que deveria ter feito desde o início da vida. Finalmente aceitando as dores e confortos de ser uma pessoa adulta e responsável por tudo que me acontece.

Tudo de bom que tenho na vida hoje, toda a mudança para melhor que pude experimentar teve início naquele momento dramático da vida em que estava em pedaços, destruído. Foi só quando reconheci que tinha um problema e que esse problema era grande demais para lidar sozinho, que as coisas começaram a mudar. Precisei aceitar ajuda, aprender de novo como viver e como ver a vida. Aceitar que não era tão bom nem tão forte quanto julgava ser e ceder ao aprendizado. Foi preciso aprender humildade antes de sair andando por onde eu queria. E tudo começou com o reconhecimento do problema e a decisão de fazer a coisa certa. Hoje estou muito melhor do que estava e quero seguir melhorando. Meus olhos miram uma vida que é digna de ser vivida. E tudo começou pela atitude daquele dia fatídico em que estava de mal a pior sem saber o que seria de mim. Fiz uma escolha baseada no amor que sinto pelas pessoas que me importo e essa foi uma das melhores escolhas que fiz na vida. É bom tomar cuidado com as escolhas, saber diferenciar o que faz bem do que faz mal. Custei a entender isso, foi preciso um grande trabalho de mudança. Mas hoje é a realidade e é o jeito como eu aconselho a todos para seguirem. Vale a pena lutar para ver a as coisas como realmente são e fazer boas escolhas, vale a pena aceitar ajuda e vale a pena abrir mão do que faz mal.

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