Depois
de conseguir me acalmar e voltar a ver alguma coisa boa no mundo ao
meu redor, comecei a questionar o quanto do que senti de ruim nos
últimos dias era real. Há uma semana atrás para onde eu olhasse só
enxergava motivos para ficar triste ou irritado. Tudo parecia envolto
numa grande nuvem de fumaça escura, sem brilho, sem nada de
positivo. E tudo ficava ainda pior por conta das falhas que cometi
com meus compromissos, deixando de fazer coisas que deveria fazer e
me sentindo muito culpado por isso. Com um desespero crescente e a
sensação de que tudo que construí desabaria sobre mim, por conta
dos erros.
Mas
o tempo passou e a química no meu corpo se alterou de uma forma que
aos poucos minha percepção passou a ser mais neutra e menos
dramática, avaliando o cenário de forma mais ampla e levando em
consideração muitos acertos entre minhas atitudes, acertos que
estavam sendo ignorados pela onda de tristeza e estresse. Precisei de
momentos sozinho, de terapia e uma boa quantidade de sono para
modificar as coisas internamente. Adiei alguns compromissos da
faculdade e aproveitei o tempo para ficar comigo mesmo e derrotar um
a um os pensamentos ruins que pipocavam na minha cabeça. Não fui ao
médico, como tinha aconselhado minha terapeuta. Sei que ela tem
razão em querer averiguar a medicação que tomo, mas ainda me sinto
confortável com o que estou tomando. Foi uma dura e longa batalha
encontrar os medicamentos certos, a dose certa e o horário certo. E
agora que encontrei fica difícil decidir voltar à velha busca pelo
apoio químico adequado. Mas sei que é questão de tempo até meu
corpo se acostumar e as substâncias não fazerem mais o mesmo
efeito. Planejo resolver isso com o psiquiatra em breve, mas agora
não. No momento decidi seguir com as mesmas bengalas e lutar contra
os sintomas da depressão com minhas próprias táticas. Dormindo
sempre que possível, tomando longos banhos quentes, lendo coisas que
me façam ter bons pensamentos e meditando sempre que lembro. Depois
de uns dias bem pesados em que achei que tudo estava vindo abaixo eu
consegui voltar a ver luz no mundo ao meu redor. Estou bem melhor do
que estava. Já voltei às atividades normais, voltei a produzir o
que preciso para meu trabalho e para a faculdade. A sensação de
satisfação por cumprir compromissos é muito calmante, me faz
desviar os pensamentos de que sou um inútil que só faz burrada.
Melhora até mesmo minha auto-estima. O jogo segue e eu continuo
jogando.
Estou
melhor essa semana, quase ao ponto de querer fazer planos para as
férias de janeiro. Nunca planejei férias, sempre improvisei. Saía
para ficar uns dias sem ir ao trabalho sem saber o que faria, nem
para onde iria, nem quem visitaria. Com o passar dos dias as ideias
iam surgindo e eu buscava realizar um ou outro desejo. Penso que
talvez devesse tentar algo diferente esse ano, ou ano que vem.
Planejar antecipadamente uma viagem ou algo do tipo me daria folga
para elaborar um roteiro mais complexo, com atividades mais intensas
do que simples visitas rápidas a alguns amigos mais próximos. Não
sei ao certo se vou fazer isso ou não, mas foi algo que me ocorreu.
As metas que tinha para este ano não tem mais como ser totalmente
cumpridas. Negligenciei alguns aspectos da vida e não foi possível
fazer tudo o que gostaria de ter feito. De repente começar o ano que
vem fazendo algo diferente seja útil para motivar o cumprimento de
metas futuras. Vai saber...
Viver
com depressão é como andar longas distâncias em terreno irregular.
Algumas vezes haverá motivação suficiente para seguir em frente a
passo largo com bom humor e desejo firme de concluir o trajeto.
Outras o caminho ficará íngreme e exigirá um esforço maior para
continuar andando. Pensamentos de desistência e questionamentos de
porque continuar podem surgir a qualquer momento e será preciso
lidar com eles. Muitas vezes o caminho deixará de fazer sentido, as
forças sumirão e será preciso parar para descansar. E nesses
momentos será preciso muita força de vontade para voltar a andar e
resistir a tentação de ficar onde está para sempre. Eu encaro
minha relação com a doença como uma grande e infinita jornada na
qual eu decidi nunca parar de andar. Não foi sempre assim, já me
deixei guiar pela depressão e fui parar em lugares muito ruins, já
me abati e fiquei estagnado, preso no lodo, por longos períodos.
Hoje, depois de tudo que me aconteceu, optei por as vezes diminuir o
ritmo dos passos, andar mais devagar, mas nunca parar de andar. Na
semana passada estive à beira de uma crise que teria me derrubado se
não fosse quem sou hoje. Desta vez, ao invés de me abater e deixar
tudo afundar, eu segui preso aos compromissos, fazendo o que devia
fazer mesmo que mecanicamente. Adiei algumas coisas, sofri por ver o
tempo desperdiçado, mas foi útil. A redução no ritmo possibilitou
q ue continuasse andando, fazendo as coisas que devo fazer. E quando
vi, a percepção começou a mudar e pouco a pouco os sintomas foram
aliviando, até ficar quase normal. Que é como estou hoje. Já
acelerei os passos novamente, embora siga num ritmo mais lento que o
comum, e me sinto melhor a cada tarefa que concluo. Até já pensando
em como serão as férias de janeiro.
Não
sei o quanto do senti semana passada era real, tinha fundamento
mesmo, e o quanto era coisa da minha cabeça. Na hora que sinto, tudo
é muito real, tangível, incontestável. Agora, já relativamente
recuperado do tombo, questiono se era tudo verdade. Talvez o problema
esteja dentro da minha cabeça, e não no mundo externo. Talvez. É
bem provável. E é muito cansativo lutar contra esses inimigos
imaginários. Muito cansativo. Mas o que importa no momento é que
passou, e estou melhor. Já consigo raciocinar direito, diferenciar o
que é real do que não é, e estou disposto a seguir na batalha. Sem
parar de andar, sem me deixar abater, sem desistir. E que venham logo
as férias, porque estou precisando...
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