Ajuda, Auto-ajuda, Fé, Foco no Bem, Motivação, Recuperação, Relato, Viver o Bem, Superação, Vivência, Vida, Vontade de Fazer o Certo, A Hora é Agora! Vença a Ansiedade e a Depressão!

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Crise matinal


Acordei nervoso. Olhei para o relógio e vi que me atrasaria para o trabalho pois não ouvi o despertador tocar. O coração estava acelerado e eu sentia um desconforto muito grande nas costas e nos braços. Os sons ao meu redor pareciam muito altos e insuportáveis. Fiquei deitado por alguns instantes tentando sair daquilo e levantar, mas simplesmente não conseguia. Moro próximo a uma avenida muito movimentada e por conta disso meu apartamento é bastante barulhento. Quando me mudei tive um longo período de adaptação, não conseguia dormir nem fazer nada com todo aquele barulho de veículos passando o tempo todo, mas com o tempo acabei acostumando. Hoje estou razoavelmente acostumado, só me lembro do problema quando durmo fora de casa, em algum lugar silencioso, e vejo como é bom poder descansar no silêncio. Entretanto, hoje acordei com uma sensibilidade terrível ao som. Cada carro, moto ou caminhão que passava fazia meu estômago revirar e meu peito quase explodir de fúria. Tentei cobrir a cabeça com o travesseiro, mas não funcionou.

Estava preocupado com o horário, precisava me aprontar para o trabalho. Mas naquelas condições eu mal conseguia raciocinar. Só de imaginar estar na presença de outras pessoas meu corpo inteiro tremia numa repulsa fora do normal. Quando o ar começou a ficar pesado, difícil de inspirar, foi quando reconheci que estava tendo uma crise de ansiedade. Já tive várias, umas mais leves e outras mais extremas. Essa parecia não ser das piores, mas não podia provocar a situação. Precisava me acalmar.

Peguei o celular e enviei uma mensagem para o grupo do trabalho, avisando que iria me atrasar. Deitei com as mãos na cabeça e comecei a tentar ordenar meus pensamentos. Os ruídos do dia reverberavam dentro de mim, insuportáveis. Uma mistura de de repulsa com ódio a cada barulho e cada voz que ouvia passando na rua. Tentei focar o pensamento em algo, me concentrar nos movimentos da respiração, aliviar conscientemente os músculos e todas as técnicas de relaxamento que eu conheço. Nada parecia funcionar. Minha mente estava agitada, elétrica. E meu corpo respondia com tiques e muito suor.

Não sei quanto tempo fiquei naquela situação, as ondas de pensamentos pareciam intermináveis. Umas duas horas, talvez. Depois as coisas começaram a acalmar e uma sensação de alívio foi crescendo aos poucos. Foi quando levantei e fui até o banheiro. Meu rosto estava péssimo, me sentia incrivelmente cansado. Um resíduo da super sensibilidade ao som continuava incomodando e o coração continuava acelerado. Mas eu estava melhor, sentia que o pior já tinha passado. Olhei o relógio e estava passando da metade do horário do expediente da manhã, se me apressasse chegaria antes do horário de almoço no trabalho. Mas decidi ficar o resto do tempo em casa, tentar me recuperar por mais algumas horas do que tinha acontecido.

Então tomei banho, me vesti e preparei algo para comer. Tomei a medicação da manhã. O estômago queimava em uma forte azia que pensei ser fome, mas não tinha vontade de comer nada. Comi um pedaço de mamão que sempre me ajuda com queimações no estômago e bebi uma xícara de café com leite gelado. Saí da mesa ainda com dor no estômago e sentei no sofá da sala. Meu cachorro, que sempre percebe quando as coisas não vão bem, sentou ao meu lado e dei um pouco de atenção a ele. O som da avenida em frente de casa continuava muito alto nos meus ouvidos, me estressando. Mas o corpo parecia estar mais relaxado.

Preparei as coisas na mochila, hoje a noite tenho aula depois do expediente, tentei adivinhar se vai esfriar ou chover mais tarde, separei um casaco e deixei tudo pronto para sair. Mesmo ainda nervoso eu não podia ficar mais tempo em casa. Em outros episódios parecidos com o de hoje tirei o dia de folga e o resultado foi desastroso profissionalmente. É muito complicado explicar o que acontece nessas situações para quem nunca passou por isso. A imagem que fazem é de uma desculpa esfarrapada para faltar ao trabalho por preguiça, e nada poderia estar mais longe da verdade. Agora, sempre que tenho esse tipo de problema me vejo obrigado a disfarçar que está tudo bem e seguir em frente. Em dias como hoje, me dou ao luxo de perder algumas horas do dia a um preço calculado. É mais fácil de administrar do que a falta de um dia completo. Não é o suficiente, mas pelo menos sei que não terei uma crise nervosa constrangedora em pleno ambiente de trabalho. Consigo ficar afastado pelo menos no horário de pico. Nem sempre é possível, mas ainda bem que hoje foi um dia em que pude ficar umas horas em casa, sozinho, antes de sair.

Agora estou no trabalho, cheguei no horário de almoço do pessoal e resolvi registrar o acontecido neste texto. É a primeira vez que traduzo uma crise dessas em palavras. Ainda estou nervoso pelo efeito emocional. Mas creio que consegui descrever o essencial. Ainda sinto o estômago queimar, continuo com uma vontade imensa de ficar sozinho e em silêncio, os ruídos continuam me incomodando. Mas estou aqui, cumprindo meu papel, arcando com minhas responsabilidades. Hoje será mais um dia em que farei tudo que preciso no piloto automático, rezando para poder chegar em casa e descansar. Mais um entre tantos que já vivi desta maneira.

Mas sou grato por ter remédios em casa, por ter podido descansar algumas horas depois da crise, sou grato por ter me alimentado e tomado banho. Por poder estar no trabalho que paga minhas contas e proporciona uma vida digna para mim e minha família. Sei que cada pessoa tem a sua cruz para carregar e essa parece ser parte da minha. De vez em quando tenho essas crises e preciso improvisar para lidar. E sou grato por poder dizer que, dentro do possível, tenho lidado relativamente bem com tudo.

Creio que só tenho o discernimento necessário para administrar a situação porque me trato há um tempo. Não faço uso de nenhuma substância que mexa na minha cabeça além dos remédios receitados pelo psiquiatra e semanalmente faço sessões de terapia. Com isso, não posso dizer que o problema sumiu, mas tenho essa desenvoltura em lidar com ele. Consigo conter boa parte do impacto emocional e não deixar que a desordem causada pela crise destrua minha vida social e profissional. Por isso sou grato ao tratamento que faço também, sem o qual certamente ainda estaria em casa passando mal e arriscando piorar minhas condições por não conseguir manter as responsabilidades.

Mais um dia, mais um degrau. É assim que eu encaro tudo pelo que tenho que passar. Amanhã será outro dia e certamente novas provações virão. E com fé e resignação, eu enfrentarei em superarei todas elas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário