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quinta-feira, 25 de julho de 2019

Ondas de pensamentos



Desde pequeno tenho tendência a me perder em pensamentos. Lembro que cheguei a ter problemas com isso na escola, quando ficava imaginando cenas e histórias ao invés de me concentrar nas aulas. Não era um aluno de todo ruim mas, também não era aplicado o suficiente para ter destaque. Exceto nas matérias que me agradavam estudar, que eram respectivamente ciências e artes, no resto eu apenas conseguia pontuação suficiente para passar de ano, e nada mais. Grande parte desse desempenho aquém do esperado se devia ao fato de eu não conseguir me manter concentrado por muito tempo em determinadas coisas que eram importantes para as avaliações. Simplesmente não conseguia manter o foco nas explicações das professoras. Minha mente começava a flutuar em devaneios ao menor sinal de tédio. Lembro de passar horas olhando pela janela da sala, pensando, imaginando histórias enquanto a aula rolava. Angustiado esperando as horas passarem para poder sair de lá e ir para casa.

Essa característica me acompanhou por toda infância e adolescência. Aos 13 ou 14 anos cheguei a ser reprovado no primeiro ano do ensino médio. Havia trocado de escola, uma instituição bem melhor do que as anteriores onde estudei, mas não conseguia me concentrar em nenhuma aula. Lembro de reclamar disso em casa. Fui atendido no SOE (serviço de orientação ao estudante) da escola, meus pais me levaram ao neurologista onde fiz exames que não constataram nada de anormal, usei homeopatia (meus pais adoravam tratamentos alternativos), mas nada parecia resolver, ou sequer encontrar o problema. Somado ao desinteresse que eu sentia pelas aulas, ficar sonhando acordado me custou a primeira e única reprovação escolar que tive.

Hoje, na vida adulta, isso ainda me causa sérias dificuldades. Volta e meia preciso chamar minha própria atenção de volta ao que está bem na minha frente. Seja um problema no trabalho, uma aula na faculdade, uma reunião, um telefonema ou uma conversa, seguidamente minha mente começa a viajar sem qualquer cerimônia e eu simplesmente paro de ver e ouvir o que deveria para me perder em imagens mentais que variam desde releituras da realidade até versões absolutamente fantasiosas dos fatos. Tal como quando era muito criança, mesmo com todas as responsabilidades da vida adulta, eu me perco em devaneios por minutos que acabam fazendo falta para o entendimento completo do que estou fazendo. Sempre me obrigando a focar o pensamento e “voltar para a realidade”.

Quando estou de folga, sem nenhum compromisso próximo, seguidamente fico parado por horas, sim horas, viajando por dentro da minha própria cabeça. Contando histórias para mim mesmo enquanto o tempo passa. Embora o corpo esteja parado, a atividade mental é elevadíssima. Por vezes chego a ficar bem cansado de tanto pensar e acabo adormecendo e, não raro, sonhando com as imagens que havia criado.

Não sei o quanto disso seria normal, pois não vejo ninguém a minha volta fazendo nada nem parecido. Ninguém com tanta “vida interior” assim. Reconheço que há um exagero mas, simplesmente não tenho controle. Basta um minuto de algo que pede minha atenção ser menos atrativo para que automaticamente eu comece a me distanciar do que está acontecendo e voar para longe. Distraído, apesar da expressão de seriedade no rosto.

Tenho dificuldades para aprender coisas que não são muito agradáveis ao meu gosto, enfrento situações tensas por não conseguir memorizar o suficiente do que deveria. Me perco durante as aulas e acabo precisando intensificar muito os estudos às vésperas das avaliações. Esqueço de compromissos, deixo tarefas para fazer depois que acabam caindo num limbo de onde nunca sequer serão lembradas. Devido à tanta atividade mental, vivo cansado e sem motivação para nada. Ansioso por um descanso que nunca vem, já que mesmo em repouso as ondas de pensamentos não param.

Outra consequência dessa característica é a criação absurda de pensamentos negativos que ocorrem quando algo desperta minha ansiedade. Basta ter um trabalho para entregar, agendar a data de uma prova ou programar um encontro para que comecem a se formar ondas crescentes de pensamentos imaginando cenários futuros catastróficos com extremo realismo. Sinto o coração palpitar, as mãos suarem, a tristeza da frustração de coisas que só aconteceram na minha mente. Sofrer por antecipação tem um outro sentido pra mim, é em um grau muito mais elevado do que vejo as outras pessoas fazerem. Eu crio histórias vívidas onde tudo deu errado e eu preciso lidar com as consequências. Sofro por situações ruins que frequentemente sequer vão acontecer e, desdobro os fatos em outras situações ainda piores, numa cadeia de eventos imaginados totalmente negativa. Os pensamentos parecem surgir como vírus se espalhando por toda a consciência. Me levando a ficar totalmente esgotado por coisas que não são reais. Quando percebo, já estou há horas dedicando minha atenção interna a ondas de pensamentos ruins infundados, pessimistas, oriundos de qualquer coisa que me cause ansiedade. Ás vezes, essas ondas duram dias a fio, me deixando mau humorado, cansado, frustrado. Ajo como se tudo que eu faço tivesse prestes a vir abaixo, como se não houvesse nada certo na minha vida. Fica mais difícil dormir com tanta atividade mental, e mais difícil acordar também, já que o descanso fica bastante prejudicado.

É como se meu cérebro não relaxasse nunca, como se minha mente fosse um furacão de pensamentos que, ou me esmaga, ou leva para longe. Para lidar com isso eu uso medicação, devidamente receitada pelo psiquiatra, que ajuda a fazer menos “associações” de pensamentos e não me perder em paranóias. Além de tentar controlar o fluxo de atividade mental meditando sempre que lembro. Fico em silêncio, parado, apenas respirando e prestando atenção na respiração, tal como aprendi com um amigo. Isso funciona muito melhor do que eu pensava e realmente ajuda a controlar boa parte do problema. Mas, infelizmente, não existe nada que resolva 100% da situação. Atividades ou assuntos que despertam meu interesse, como escrever ou ler algum bom livro com o tema que me atraia, fazem minha mente acalmar e focar. E nesses momentos vejo o quanto anseio por um pouco de ordem mental. Quando encontro algo que desperta meu interesse ao ponto de focar meus pensamentos e começar a aprender coisas novas sem esforço, fico obcecado pelo que estou fazendo. Se é um livro, leio até não aguentar mais. Se é um jogo, jogo até minha cabeça começar a doer e ser obrigado a parar. O mesmo ocorre com filmes, video-aulas ou conversas com pessoas interessantes. Repito compulsivamente aquilo que acalma minha mente por muitas e muitas horas, até estar fisicamente incapacitado. Quando descubro um assunto interessante para escrever, o texto sai rápido e abundante. Como se “deslizasse” para fora da minha mente, não importando quanto tempo leve no processo. O que me leva a crer que quando estou concentrado em algo que me desperta interesse, tenho um grau de comprometimento muito acima do comum. Chego a pensar que se pudesse converter toda a motivação que tenho para trabalhar em algo que goste seria capaz de produzir resultados notáveis. Sinto que vivo em desperdício, na verdade, sendo obrigado a dedicar minha atenção à coisas que não suporto. E por isso nunca ter resultados realmente grandiosos no que faço. Sendo que poderia me concentrar e produzir mais do que qualquer um se pudesse me dedicar a algo que me prenda a atenção.

Infelizmente, quase nada do que tenho como obrigações na vida atrai meu interesse a esse ponto. Por isso aproveito as horas de folga para, pelo menos no lazer, poder acalmar as ondas de pensamentos. Já que, no dia a dia, sempre que preciso me concentrar em algo importante a sensação é a de domar um cavalo selvagem. Por mais que eu me esforce, é difícil absorver conhecimentos que não me atraem. E não tenho qualquer controle sobre o que me desperta interesse. Mesmo sabendo que é meu dever aprender e lembrar, mesmo que esteja claro que meu futuro depende disso, eu não consigo. Por isso minha mente se perde em pensamentos, voa longe, o tempo todo. Me deixando aéreo para quase tudo e consumindo minha energia com coisas não produtivas.

Tenho permanentemente esse quadro de hiperatividade mental que me custa bastante caro. E essa acaba sendo mais uma daquelas coisas que preciso aceitar do jeito que são, me esforçar para fazer o que é certo e seguir em frente. Não tenho controle sobre isso e nunca encontrei uma forma de reduzir o ritmo ou pelo menos ordenar a bagunça dentro da minha cabeça. Trata-se de uma condição que não me traz nada de benefício e frequentemente me afasta de alcançar bons resultados. Do mesmo jeito como não controlo tantas outras coisas na minha vida, essa é uma característica minha que se revela de extrema importância, pois ocupa muito espaço na minha vida. É uma das minhas tarefas lidar com isso e seguir vivendo, cumprindo compromissos e evoluindo da melhor forma que posso. Tentando manter o foco e remendando os problemas que isso me causa.

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